Que baita Grand Slam!

O primeiro Grand Slam da temporada não se esquece. Ainda mais como foi o da Austrália, realizado na segunda quinzena deste ano. Começou movimentando as redes sociais e a imprensa – não somente a especializada em tênis – com o caso criado por Novak Djokovic bem antes do início da competição principal. Que campeonato! Os que conseguiram lobar o sono e dar um chega pra lá nos compromissos da manhã foram brindados com partidas sensacionais. E o troféu maior veio no último fim de semana do torneio com a conquista histórica de Bia Haddad Maia, ao lado de Anna Danilina, e com a fantástica vitória do estupendo Rafael Nadal sobre o quase nada carismático Daniil Medvedev. (Desculpem o excesso de adjetivos, mas, desta vez, são necessários).

A Bia foi pura superação. Aos 25 anos já passou por tanta coisa – quatro cirurgias, um tumor na mão esquerda e uma suspensão preventiva em caso de doping, além da “nova rotina” imposta pela pandemia da Covid-19 – que em nada surpreende a emoção que transbordou quando recebeu o troféu de vice-campeã nas duplas femininas. Um feito inédito para o tênis brasileiro, depois de Maria Esther Bueno, dona de 19 títulos no Grand Slam (sete em simples e 12 em duplas). Bia merece todo o nosso respeito. E, se ela ainda tinha alguma dúvida, pode, sim, entrar em quadra sem carregar o peso de ter sido uma promessa – ônus, aliás, que muitos jovens talentosos no esporte brasileiro precisam pagar. Construiu sua trajetória, com o apoio da família e dos que confiou seu tênis, como seu técnico atual, Rafael Pacciaroni. Que presentão Bia deu ao tênis brasileiro, e nós só temos que agradecer.

E Rafael Nadal? Tudo o que já foi dito ainda é pouco para este atleta que encanta não somente pela excelência do seu tênis mas por sua autenticidade. Sem nenhuma permissão, copio aqui uma frase de Alex Corretja, outro tenista de quem sou fã: “Tua luta constante torna a todos nós mais fortes. Nunca conheci um atleta que nos transmite tanta paixão como Rafa”. Simples assim. Foi emocionante assistir à vitória de virada depois de quase cinco horas e meia, ao se dar conta do momento histórico – afinal são 21 títulos de simples nos Grand Slam –, ao aplaudir cada uma das palavras. Ele mesmo lembrou, durante a cerimônia de premiação, que um mês e meio antes não tinha certeza se estaria em Melbourne e que lutou muito para lá estar lá. Certamente muito da energia que o levou a onde queria foi o fato de fazer o que lhe deixa feliz – jogar tênis – e contar com o apoio de sua família e de seu time. Nós agradecemos!

E quanto ao Novak Djokovic? Deportado da Austrália, depois de ter seu visto cancelado pela Corte Federal, a partir de uma batalha judicial – e com pitadas políticas – por tentar entrar no país sem estar vacinado contra a Covid-19, deixou algumas certezas: com a ausência de um tenista de sua qualidade, perde a competição e o espetáculo; as convicções individuais precisam ser questionadas em prol do bem-estar de todos; as entidades responsáveis pelo tênis profissional devem ser mais claras nas posições que envolvem a pandemia que seguimos enfrentando. E deixa uma dúvida: o sérvio estará em Roland Garros para tentar seu 21º no Grand Slam, empatando com Rafa? Teremos que esperar.

 

Cláudia Coutinho é jornalista esportiva, especializada em marketing e com MBA em Gestão, Marketing e Direito Esportivo (FIFA/FGV/CIES)

claudiacoutinho@capitulo1.com.br

@claudiacoutinho21

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