Aplausos e reflexões sobre 2021

“Adeus, Ano Velho! Feliz Ano Novo”, dizia uma música cantada em muitos réveillons, especialmente daqueles que nasceram em um mundo mais analógico do que digital. Mas nunca compactuei com esta ideia de que bastava abrir a agenda no dia 1º de janeiro para tudo mudar e, em algumas situações, até zerar o que deveria ficar para trás. Como se entrássemos em uma quadra de saibro, recém-arrumada, à espera de uma primeira marca. Por isso, sempre busquei olhar para fatos marcantes e, a partir deles, pensar como podemos construir um presente melhor. 

Selecionei, então, quatro episódios que se destacaram na minha retrospectiva para o tênis em 2021. O primeiro deles merece toda a nossa reverência: Luisa Stefani e Laura Pigossi conquistaram a primeira medalha olímpica da história do tênis brasileiro nos Jogos de Tóquio. As duas garantiram o bronze quando derrotaram as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina de virada, por 4/6, 6/4 e 11/9. Vale lembrar que elas só participaram da Olimpíada porque uma vaga na chave de duplas femininas foi aberta a cerca de 15 dias antes do início da competição. A parceria foi inscrita pelo gerente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Eduardo Frick. Foi a vitória da superação (a derrota nas semifinais para as suíças Belina Bencic e Viktorija Golubic foi doída demais), do acreditar, do aproveitar a oportunidade da melhor forma possível. Luisa, que terminou a temporada como a 10ª melhor duplista do mundo, e Laura servem de inspiração para as meninas que querem ter no tênis uma caminho para suas vidas.

O segundo episódio é para refletir. Quando a japonesa Naomi Osaka, então a número 2 do circuito mundial feminino, anunciou que desistiria de Roland Garros, depois de vencer na primeira rodada, muitos buscaram entender o que estava acontecendo. Ela havia se recusado a participar da entrevista coletiva depois do jogo de estreia, o que é uma obrigação de acordo com a regra do torneio, e foi informada que os organizadores a excluiriam do campeonato se mantivesse a decisão no jogo seguinte. A repercussão foi tamanha. Na sequência, Naomi noticiou em suas redes sociais que estava deixando o Aberto francês e escancarou que, desde 2018, tem depressão e dificuldades para enfrentar a ansiedade e os momentos de pressão. Ela mesma reconheceu em sua nota que talvez devesse ter sido mais clara ao se recusar a enfrentar os jornalistas quando se recusou a ir para a sala de entrevistas. Mas disse temer por possíveis críticas. Passada a crise, ela acendeu a pira olímpica nos Jogos de Tóquio e, agora, se prepara para buscar seu quinto título de Grand Slam o terceiro no Aberto da Austrália. Além de seu tênis, Naomi é necessária ao esporte, por ser mulher e negra que assume posturas políticas muito claras, como quando ingressou nas quadras de Flushing Meadows com máscaras que traziam nomes de negros assassinados por racismo.

Abro aqui um parênteses: o caso Naomi praticamente se repetiu com a ginasta norte-americana Simone Biles, que ficou de fora de várias disputas nos Jogos de Tóquio.

O terceiro episódio tem a chinesa Shuai Peng como protagonista. A tenista desapareceu no início de novembro, quando afirmou ter sofrido abusos sexuais por parte do ex-vice-primeiro-ministro da China, Zhang Gaoli. A campanha #OndeEstáShuaiPeng tomou conta das redes sociais e não só de famosos esportistas, como a própria Naomi Osaka, Serena Williams e Billie Jean King, só para citar alguns. Muito recentemente, Shuai conversou com o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, por chamada de vídeo, garantindo estar em casa e bem e solicitando que sua privacidade fosse preservada. Quem pensa que o esporte – em qualquer modalidade – se limita à área da competição precisa dar uma boa repensada.

E, finalmente, o quarto episódio foi assistir ao retorno do público aos espaços onde todos os apaixonados pelo tênis devem estar, junto à quadra. Em alguns complexos, a volta foi cautelosa. Em outros, nem tanto. De qualquer forma, foi ótimo saber que, com a vacina e as precauções necessárias, todos podemos voltar a fazer o que gostamos, jogando ou assistindo. Que neste 2022, os calendários do tênis em todo o mundo possam retomar a normalidade de antes da pandemia causada pela Covid-19. Se de acordo com o que determina a Ciência, é claro. 

Agradeço demais ao presidente da Federação Gaúcha de Tênis, Eduardo Peña (@dudapena), e à sua diretoria, em especial à diretora de Comunicação, Rafaela Meditsch (@rafametitsch), pela confiança e pelo espaço. A ideia desta coluna é conversar sobre o que gostamos, o tênis de quadra e o beach tennis, falar sobre o que está acontecendo, recordar momentos importantes, reverenciar protagonistas da nossa história e olhar o que vem pela frente.

Um ótimo 2022 para todos! Juntos vamos construir uma Federação atuante e como o tênis gaúcho merece.

 

Cláudia Coutinho é jornalista esportiva, especializada em marketing e com MBA em Gestão, Marketing e Direito Esportivo (FIFA/FGV/CIES)

claudiacoutinho@capitulo1.com.br

@claudiacoutinho21

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